Sobre o sim
*Publicado no Ornitorrinco em 02/04/11
Para além de uma lambida nos ouvidos, que uma batida entre vogais e consoantes é coisa pra qualquer um e pra ninguém, acho que amo todas as palavras. Digo que acho porque vivo por todas mas tenho uma preferida, e uns diriam que amor não pode ser dividido, mas eu digo que amar muitos muito e preferir tanto um desses não mingua nem o amor nem os amores. Portanto, amo sim, não acho, achei, aqui está. E nesse encontrão, num cruzamento que sempre deixa vitimas, invisíveis como o cão, o terno, a bola, o soldado, de dois automóveis desgovernados berrando seus sons, sim é minha palavra preferida. Sim. Essa aí, que você disse alto agora, ou só moveu os lábios em quase silêncio, porque mesmo não querendo é impossível resistir. Sim.
Sim é a coisa mais séria que existe e, ao mesmo tempo, é puro deleite. Vivemos pelo cafuné, não é? Seria um produto maravilhoso, imaginem: Sabão em Pó SIM, SIM Telefonia, Supermercados SIM, Camisinhas SIM, Maconha SIM, SIM Discos. Bebam SIM. Fumem SIM. Nesse natal, não deixe de levar um SIM para quem você ama. Puro apocalipse de mercado. Que nenhum marqueteiro leia esse texto.
Não que o Não não mereça meus pensamentos mais lascivos: os merece. O Não pode ser sexy e profundo, como a vida deve ser. Para uma ilha deserta, porém, eu levaria um disco, e não um livro. Um disco de música pop. Duplo. Com gelo. O Sim vence pelo penteado.
Arrisco afirmar, inebriado pela palavra petulância, que o meu amor é pelo sim dito em português. Acho que sim deveria ser dito assim, SIM, em todas as línguas. Sabemos que o Yes é comercialmente imbatível, mas há, no entanto, nele um excesso de showbusiness, como uma senhora de peruca. O Si em espanhol é charmoso e fuma, mas lhe falta justamente o eme vibrando no céu da boca que dá ao Sim em português sua sensualidade perpétua.
Contudo, não abusem: digam X para a fotografia, digam não ao não, e não esqueçam do aviso que Leminski nos deixou, sobre que não houve sim que ele dissesse que não fosse o começo de um S.O.S. Mas digam. E prometam comigo que nunca mais escreveremos uma história de amor.