Por um carnaval tosco
*Publicado no Ornitorrinco em 17/02/13
Contra a padronização, a mercantilização, a gigantificação do carnaval, o tosco. Só o carnaval tosco salva. Só o carnaval tosco ainda é carnaval. Só o carnaval tosco ainda é alegria, o maior espetáculo da terra, a ginga, a espontaneidade, a bola na rede, pimba na gorducinha, a alegria do povo brasileiro. Só o carnaval tosco ainda é qualquer outro clichê sobre o carnaval e a alegria do povo brasileiro.
Não que os grandes blocos não sejam maravilhosos, mas há algo que só o carnaval tosco tem. Um certo sentido, uma certa aura, um desacerto absoluto e essencial. Nada mais lindo e carnavalesco do que quem não sabe sambar. Do que quem não está lindo e carnavalesco. Por isso, confie: mantenha seu bloco pequeno. Não contrate carros de som. Não consiga autorização da prefeitura. Não tenha uma bateria profissional. Não queira vencer o concurso de popularidade do bairro, da cidade, do caderno de cultura. Não gaste fortunas em uma fantasia high tech. Um bloco não pode ser a boa. Não pode reunir gente bonita e descontraída.
Mantenha os bailarinos mendigos, as fantasia improvisadas, as gargantas roucas, e pouca gente. Não tire um milhão de fotos nem assovie um milhão de tweets ao longo do bloco – que, logicamente, não deve tropeçar por mais do que um quarteirão. E, principalmente, não cague regra sobre como deve ser o carnaval de cada um, e faça estritamente o que você quiser.